The Update #8 - Quem é o autor quando tudo é remix?


“Remix. Copiar, transformar e combinar materiais existentes para produzir algo novo.”
Essa frase de Kirby Ferguson, autor da série documental Everything is a Remix, é um bom ponto de partida pra gente pensar sobre autoria no mundo atual, um mundo em que qualquer conteúdo pode ser editado, recortado, combinado e republicado em segundos.
Essa discussão ficou especialmente visível nos últimos dias com a febre das imagens em estilo Studio Ghibli geradas por IA.
Milhões de pessoas e marcas compartilharam versões “Ghiblizadas” de si mesmas, cidades, situações cotidianas e até de outros memes.
O resultado? Divertido, nostálgico, cativante.
Mas também levantou a dúvida: quem é o autor dessas imagens? É a IA? É quem escreveu o prompt? É Miyazaki, cujos traços e tons foram claramente absorvidos por algoritmos?
A pergunta não é nova. Mas agora ela ficou impossível de ignorar.

A OpenAI assistindo ao pau torando na internet
🪡 De onde vem a ideia de remix?
Não, o remix não foi inventado por DJs, é uma prática ancestral sem data definida.
Contadores de histórias, trovadores medievais e cantores de blues já reutilizavam estruturas, refrões e narrativas para construir novas versões.
Mais tarde, o sampling elevou essa prática a outro nível: construir algo novo a partir de pedaços do que já existe.
Na arte, Marcel Duchamp apavorou geral ao transformar um mictório em obra de galeria. E no cinema, nomes como Tarantino e Wes Anderson são reconhecidos por criarem a partir de colagens estéticas, sonoras e narrativas.
A diferença é que hoje as ferramentas para essa prática estão mais evoluídas e acessíveis. E a internet virou um palco onde tudo se mistura.

Quentin Tarantino é famoso por não ser tão original assim
📲 Remix na era dos feeds infinitos
O remix deixou de ser uma técnica de artistas para virar uma linguagem da cultura digital. Os memes são o melhor exemplo: repetição + variação + contexto novo = significado reinventado.
Áudios de TikTok, remixes de vídeos no YouTube, montagens de reels com falas de filmes, edições com IA. Tudo isso é remix. Só que em escala industrial.
Como destaca Henry Jenkins em Cultura da Convergência, vivemos uma era em que o conteúdo “flui” entre plataformas e usuários participam ativamente da criação — muitas vezes sem nem se dar conta.

Ninguém mais lembra quem lançou a trend. Mas isso importa?
👥 O autor morreu ou só virou coletivo?
Em 1967, o crítico literário Roland Barthes escreveu A Morte do Autor, defendendo que o significado de uma obra não pertence a quem a criou, mas a quem a lê, interpreta e recria.
Num mundo remixado, a originalidade pode estar também na curadoria e na recombinação. A pessoa que sabe juntar referências, criar contexto e atribuir novo significado está, sim, criando algo.
Legal, mas até onde vai essa liberdade?

Roland Barthes (1915-1980) já falava sobre isso quando tudo era analógico.
⚖️ Remix, lei e ética
Legalmente, o remix vive numa zona cinzenta.
Lawrence Lessig, em Remix: Making Art and Commerce Thrive in the Hybrid Economy, argumenta que a rigidez dos direitos autorais está em desacordo com a lógica da cultura digital.
Ele defende modelos mais abertos, como o Creative Commons, onde criadores podem escolher como e se suas obras podem ser reutilizadas.
Ainda assim, disputas judiciais são comuns.
O artista Shepard Fairey, por exemplo, enfrentou a Associated Press por usar uma foto como base para o famoso pôster “Hope”, de Obama. Virou ícone. E réu.
Já DJs como Girl Talk e Danger Mouse desafiaram a indústria ao criarem álbuns inteiros de mashups com samples não licenciados. Viraram clássicos. E polêmicas jurídicas.

Shepard Fairey e o polêmico cartaz que quase o deixou atrás das grades.
🧠 IA, autoria algorítmica e o futuro da criação
Com a ascensão da IA generativa, como o ChatGPT, Midjourney e Sora, a autoria ganha mais camadas.
Quem criou o conteúdo: a IA, quem deu o comando, quem treinou os dados ou a referência usada? É autoria ou é automatização?
Talvez o caminho esteja numa autoria descentralizada e consciente, onde cada peça tem crédito, contexto e propósito.
Ou seja, em um mundo onde tudo é remixado, criar talvez signifique dialogar com o passado, entender as referências que você carrega e transformar o que já existe em algo relevante para o agora.
Se todos somos únicos, todos podemos ser autênticos. Cada um com suas referências.
🌟 Recomendações
O que andei ouvindo, lendo, assistindo, estudando ou outra atividade nos últimos 7 dias.
📺 The Last of Us Season 2: Na última semana falei sobre a estreia. Agora começou pra valer e o primeiro episódio já deu uns bons sustos. Tudo indica que a segunda temporada vai convencer! Assista na Max.
🎥 Kirby Ferguson - Everything is a Remix: Boa parte desse texto foi baseado no documentário homônimo. Vale a pena tirar um tempo e conhecer outras referências caso você se interesse pelo assunto. Assista no Youtube.
📘 Remix, de Lawrence Lessig: um ótimo livro essencial sobre arte, autoria e leis no digital. Compre na Amazon.
📗 A Cultura da Convergência, de Henry Jenkins: outro livro sobre fãs, narrativas coletivas e cultura participativa. Compre na Amazon.
📄 A Morte do Autor, de Roland Barthes: texto clássico pra quem quer entender a desconstrução da autoria. Leia gratuitamente aqui.
🧠 The Update Lab - consultoria de marketing para empresas
Se você já investe em marketing, mas não está vendendo como deveria, temos uma notícia boa: agora existe o The Update Lab.
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🧠 The Update Lab – Consultoria, treinamentos e mentorias prontos para ajudar empresas a destravarem seu posicionamento, transformarem conteúdo em crescimento e capacitarem suas equipes de marketing com estratégia e execução.
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